Analisar o passado é, sem sombra de dúvida, uma grande ferramenta que temos para computar os avanços que fizemos ao longo do tempo e avaliar as nossas possibilidades reais de progresso.
1923 foi realmente um ano marcante para a história da humanidade. No cenário internacional nasciam grandes artistas como o espanhol Eusebio Sampere Juan - escultor e pintor - e o famoso desenhista português Vítor Péon, autor de verdadeiras obras primas. A América do Norte se deliciava com o recém-lançado Robin Wood, em preto e branco a ainda mudo, estrelado por Douglas Fairbanks (Robin Hood) e Billie Bennett (Lady Marian).
No Brasil nascia o notável músico conhecido por Zé Bodega, irmão do não menos famoso maestro Severino Araújo. Seu saxofone, brilhantemente tocado, se destacava dente os demais instrumentos da Orquestra Tabajara, da qual era componente, juntamente com Severino Araújo e mais três irmãos.
Cabo Frio também era palco de grandes realizações. Nesse ano foram construídas duas obras arquitetônicas de rara beleza, que são o prédio do Corpo de Bombeiros e a Escola Estadual Professora Ismar Gomes de Azevedo, hoje tombadas pelo Patrimônio Histórico Nacional.
Lendo a seção de achados e perdidos publicada no Jornal do Brasil de 23 de abril de 1923, encontramos o anúncio seguinte: “O cavalheiro de preto que estava no bonde da Lapa em que viajou aquela senhorita de azul que saltou na Central pede-lhe que escreva a Orestes, neste jornal, e dê informações.” - Muito corajoso esse viajor de outrora, que imbuído de uma paixão incontida, num ato de verdadeira coragem, lança mão do único veículo de comunicação ao seu alcance e publica o anúncio acima, com a esperança de reencontrar aquela senhorita de azul – tempos difíceis, sem as redes sociais...
Mas a coragem não habitava somente o imo daquele cavalheiro do Centro do Rio de Janeiro. Também em Cabo Frio a coragem se fez presente: no dia 3 de abril de 1923, Joaquim Carvalho de Santana, Antonio de Oliveira Gama, Pedro Guedes Alconforado, José Moreyra de Loyola e José Cupertino Santana reuniram-se numa casa que, segundo contam apresentava-se em mau estado, e conduziram assim a primeira reunião espírita. Estava fundado o Centro Espírita Trabalhadores de Jesus. A tarefa estava somente começando, pois além de enfrentarem o enorme preconceito que havia na época, também a dificuldade financeira se fazia presente, pois desde os tempos iniciais até hoje, o espiritismo não cobra nada por nenhuma das atividades realizadas. Foram tempos muito difíceis e local das reuniões mudou de endereço por diversas vezes, conforme pode ser consultado na Internet, no portal da instituição.
A Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec, tem o nobre propósito de nos trazer o conhecimento, iluminando nossas consciências com a luz do saber e tendo como uma das ferramentas a fé raciocinada, que nos consola e nos transforma intimamente promovendo nosso crescimento. Esses cinco companheiros tinham um ideal: levar consolo às almas sofridas, utilizando as ferramentas que o espiritismo nos oferece. Para tanto, tiveram que vencer diversos obstáculos, lutando contra todas as dificuldades que se interpunham entre o o planejamento e o objetivo – partiram para a ação, pois somente o trabalho promove o crescimento, e impetraram a construção dessa fortaleza de amor na qual se tornou o Centro Espírita Trabalhadores de Jesus, que hoje nos acolhe e nos abriga.
Muitos fatos importantes aconteceram em 23 de abril de 1950, principalmente na seara espírita. Poderíamos enfatizar a fundação do Sanatório Espírita de Anápolis em Goiânia (http://www.sea.org.br) ou a Creche Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, que nessa data passou para o controle da Federação Espírita do Paraná. Contudo, principalmente para os cabofrienses, o fato mais marcante foi a inauguração da nova sede do Centro Espírita Trabalhadores de Jesus, no mesmo terreno onde existe a construção atual. No lote doado pela irmã Rosalina Cardoso de Fonseca foi erigida uma modesta construção, que abrigava os frequentadores com conforto e segurança, permitindo que as atividades da casa pudessem ser expandidas , atendendo a mais necessitados que ali acorriam em busca de alívio para os seus tormentos. Ainda não havia sequer luz elétrica, o que foi providenciado posteriormente, mas a sede já era própria – uma grande conquista!
Já aconteceram muitas ampliações e reformas e hoje somos uma grande família a serviço do bem. A cada dia chegam mais cooperadores, ampliando o voluntariado envolvido com as diversas tarefas que a casa desenvolve. Além das reuniões públicas aos domingos e quartas-feiras, da Evangelização da Infância e Juventude e do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, O CETJ ainda possui várias outras atividades gratuitas, cuja listagem encontra-se disponível em www.cetj.org.br.
Hoje contemplamos essa obra maravilhosa e refletimos sobre as conquistas já realizadas e o muito que ainda está por fazer. Tudo realizado graças aos cooperadores voluntários e a pequenas doações – também voluntárias – dos nossos associados. Uma família de amor onde todos contribuem. Mesmo aqueles que somente assistem às reuniões públicas estão recebendo os fluidos de que necessitam e doando outros que serão úteis a outros irmãos – Colaboram sem que saibam. É assim que o amor opera milagres!
Abril é o mês de aniversário da casa – estamos em festa! Mas essa festa talvez não fosse possível se aqueles cinco intrépidos irmãos não tivessem tido a coragem de iniciar essa obra da qual não eram donos absolutos, uma vez que sua extensão não podemos determinar. Os frutos que colhemos hoje, e colheremos ao longo da nossa jornada, é o resultado da frondosa árvore plantada por eles, que todos nós cultivamos e que se chama Centro Espírita Trabalhadores de Jesus. A casa comemora seu aniversário, mas é você quem está de parabéns, amigo frequentador!
Paulo Jorge dos Santos
Escrito originalmente em 26 de março de 2009 e publicado no periódico mensal "INFORMATIVO CETJ", edição de abril de 2009. Atualizado em 16 de março de 2017, em homenagem aos 94 anos de fundação do CENTRO ESPÍRITA TRABALHADORES DE JESUS, que ocorrerá em abril.